05/15/14 - Caraguá Beach
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POST COMPARTILHADO: Turistas e suas histórias

Hoje vocês terão aqui no CB um post especial, é um tipo de publicação compartilhada, blog amigo, ou qualquer outra denominação. Vai do gênero #FollowFriday, ou seja, uma campanha entre blogueiros (as). Já conhecem o blog da Aline Vieira? Ela sai por aí, viajando, e relata os acontecimentos e as pessoas que conheceu no "1001 pessoas que conheci antes do fim do mundo". A blogueira fez até uma publicação de uma viagem que fez pro litoral, e adivinhem? Até a confundiram com uma assaltante, haha! Detalhe que o caiçara que a confundiu e estava num bar em alguma estrada do nosso litoral é que tinha um facão e a garrafa de 51 na mão! kk

Além dessa há muitas outras histórias pra você se divertir. Mas hoje vocês podem acompanhar tudo o que rolou com a Aline no Litoral Norte de São Paulo. Vem ver!




    
O rapaz do bar que achou que eu o assaltaria

Já tínhamos percorrido pelo menos 70 quilômetros quando passamos pela placa de “Fila para a Balsa”, entre Caraguatatuba e São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, e parecíamos selar o nosso bate e volta com chave de ouro. Essa viagem, em pleno aniversário de 460 anos de São Paulo, era uma das mais aguardadas de 2014 e um grupo de amigas e eu combinamos: seria um fim de semana de descanso. Sem baladas, sem caras, sem essa loucura de fazer caber 70 horas em um dia de apenas 24 – apesar de eu ter ficado tão animada que queria fazer mergulho, passeio de jet ski, stand up paddle, trilha e “essas coisas de praia” tudo no mesmo dia.

O sábado havia sido exatamente do jeito que a gente planejava: em Ubatuba, bebericamos nossos drinks favoritos e torramos no sol do “verão mais quente dos últimos 71 anos”, como já comemoravam (ou não!) as manchetes do jornais. Apesar de algumas trabalharem cedo no dia seguinte, decidimos voltar para a cidade grande sem pressa no domingo. No caminho, passaríamos em qualquer praia bonita para se despedir do fim de semana. A indicada pelo“Tarzan”, um moço surfista-cabeludo-bronzeado-gato dono do hostel em que ficamos, era Toque Toque Pequeno. Malas no carro e pé na estrada.

A volta para casa tinha Offspring e Miley como trilha sonora e só começou a sair do esperado mesmo quando passamos sem parar por um posto de gasolina bonitinho – e “sem marca” – em São Francisco.
“Nós paramos no próximo, gente”, disse, tranquilamente, a amiga motorista, que obviamente não sabia que não teria “próximo” pelos 30 ou 40 km seguintes e que, 10 minutos depois, o combustível entraria na reserva.

Éramos 4 meninas no carro, no meio da serra, e, me chamem de “cagona” o quanto quiserem, o medo de “ficar no caminho” já me consumia por completo. Eu nunca devo ter contado aqui antes, mas eu sou alucinada por histórias de serial killers (e psicopatas em geral) e já conseguia me imaginar em várias situações dessas de “tem um maluco ali na frente, agora fodeu pra todas nós”.

- “E se o carro parar na serra?”, perguntou a amiga motorista, levemente abalada com a notícia e pisando no acelerador para ver se chegava logo em alguma cidadezinha.

- “Aí a gente vai ter que pegar uma carona até o posto”, disse outra amiga, decidida, enquanto uma outra olhava com cara de “vida, você me fodeu, sua ordinária!”.

Eu tinha vontade de chorar, é sério. Eu olhava para o nada e só conseguia imaginar o carro falhando e nós quatro, sem sinal de celular, pedindo carona no meio da estrada. Minhas pernas estavam mais bambas do que das vezes que sonhava que estava caindo de prédios altos e acordava assustada.

Mas, com os vários poemas de Robert Frost, meu autor favorito, eu tinha aprendido uma coisa:“the best way out is always through”. Então eu não alteraria o meu tom de voz. Então eu não repetiria que estávamos sem gasolina. Então eu não colocaria a culpa na amiga que não voltou no posto para abastecer. Eu não colocaria para fora todo aquele medo e ponto.

- “Ah, gente! Só corremos o risco de um Champinha da vida aparecer no nosso caminho e estuprar todo mundo, mas até aí, né…”, eu disse, rindo, e fazendo as meninas soltarem gemidinhos de medo.
Andamos por mais 25 km na reserva e a amiga motorista sempre lembrava que nunca havia ficado na reserva e que não fazia a menor ideia de quanto tempo o carro andaria. Ela estava, obviamente, cada vez mais desesperada. Estrada, mato, árvores, pedras, sol quente, poucos carros passando. E eu só pensava em como seria vergonhoso se, naquele momento, eu me mijasse nas calças de medo. Era Deus me dando uma lição: na adolescência, tinha uma amiga que toda vez que ria demais, se mijava nas calças. 

E eu nem precisava falar nada para humilhá-la. Só a minha gargalhada descontrolada já fazia esse serviço. E ali, no meio da serra, sem calcinha limpa extra na mala, era Deus que eu via. Deus soltando a mesma gargalhada descontrolada que eu soltava há 12 anos para essa tal amiga.

Depois de alguns minutos, e de passar a praia em que planejávamos ficar, vi umas pichações e deduzi: se tem grafite aqui, é porque a cidade deve estar perto. Eu estava certa. Passamos por um pequeno vilarejo no meio da serra e tínhamos certeza que ali encontraríamos um posto. Ilusão (ou seria desilusão?). Resolvemos ir um pouco mais a frente – andamos cerca de 8 km e nada, nada de cidade.

- “É melhor a gente voltar e perguntar naquele bar da vilinha onde tem um posto”, alguém disse. Eu concordei.

Voltamos ao vilarejo e o bar estava lotado de homens. Eu, de short curto e regata, resolvi entrar para pedir informação. Caminhei até o balcão com uma amiga, sob os olhares atentos de todos os marmanjos da região, e encontrei o rapaz que (provavelmente) achou que eu o assaltaria.Branco, alto e de regata salmão tipo essas da Billabong, ele segurava uma garrafa de cachaça 51 numa mão e um facão na outra. Parecia estar prestes a servir alguém. Eu olhei bem nos olhos dele e, juro, estava tão desesperada com a situação que nem sabia o que dizer.

“Então…”, eu disse, fazendo uma longa pausa. Eu tenho certeza que, naquele momentos, meus olhos estavam arregalados.

Petrificado, o rapaz continuou segurando a garrafa de 51. Me olhou nos olhos sem mexer nenhuma parte do corpo, como se pensasse “caralho, essa baixinha aí vai me assaltar!”, e esperou que eu completasse a frase.

- “Estamos sem gasolina, moço. Pelo amor de Deus, onde tem um posto por aqui? Já estamos na reserva desde Caraguá”, eu disse.

O rapaz do bar parecia respirar aliviado. Com ar de deboche, nos informou que poderíamos achar um posto “daqui 5 km, bem pertinho”. Nesse momento, alguns outros caras se meteram na conversa, também falando do posto a 5 km.

- “Mas será que vai dar para chegar lá?”, perguntou-me uma amiga.
- “Não sei, já estamos há 40 minutos na reserva”, eu disse.
- “Esses carros têm 8 litros de reserva, moça. Pode ir tranquila que dá para chegar sim”, disse um cara mais velho, todo bronzeado.

A amiga motorista desceu do carro aliviada e começou a conversar com ele. O cara mais velho, que tinha uma moto, disse que em 10 ou 15 minutos iria pegar a mesma estrada que a gente e que, se ficássemos no caminho, ele “nos encontraria e nos salvaria”, passando um pouco do combustível da moto pra gente.
O posto realmente ficava a 5 km dali. Enchemos o tanque e resolvemos voltar para visitar Toque Toque Pequeno. Na hora que passamos na frente do bar, abaixamos as janelas e gritamos o maior “aeeeeeeeee” com buzinas que aqueles moços já devem ter ouvido.
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Se vocês gostaram da história da Aline, conheçam o blog dela 



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